Estratégias sensoriais com foco na aprendizagem

Não é hoje que somos constantemente bombardeados com estímulos sensoriais ao longo do dia e as crianças, infelizmente, seja na escola ou fora dela, também não escapam dessa avalanche. Mas como será que processamos tudo isso?

O processamento sensorial desempenha um papel crítico na autorregulação e na forma como as crianças funcionam, interagem e aprendem na escola. Processamento sensorial diz respeito ao processo neurológico responsável por organizar as informações recebidas do ambiente (interno –corpo e externo –mundo) para que sejam usadas de forma apropriada ao dia a dia.(Kranovitz, 2005)

Crianças que têm habilidades de processamento sensorial funcional são capazes de absorver informações sensoriais, filtrar o que é irrelevante e permanecer relativamente calmas e autorreguladas. Eles podem ocasionalmente ter comportamentos compensatórios, como roer as unhas, brincar com objetos, beber água ou ir ao banheiro (quando não precisam, para um breve descanso), bater nas pernas, mexer nos mãos, e assim por diante.

SOBRECARGA SENSORIAL

Porém, quando as crianças têm dificuldade em processar informações sensoriais elas podem apresentar problemas para concluir as tarefas escolares e domésticas que exigem que fiquem sentadas. Podem também ter dificuldades em ouvir e seguir instruções, se envolver socialmente com os colegas e brincar ou trabalhar cooperativamente com outras pessoas.

E essa dificuldade em interagir com o ambiente e colegas funcionalmente ocorre porque elas não estão recebendo feedback sensorial adequado. Ao fornecermos às crianças uma maior consciência do seu sistema sensorial em intervalos regulares ao longo do dia podemos ajudá-las a melhorar seu comportamento e autorregulação em geral.

ESTRATÉGIAS SENSORIAIS SIMPLES PARA abrir caminhos para a aprendizagem.

As estratégias abaixo podem ajudar a aliviar a sobrecarga sensorial que nossas crianças experimentam e abrir caminhos para uma aprendizagem mais efetiva.

Pequenas pausas para o corpo: Ter alguns horários regulares para fazer check-in (perceber como estamos nos sentindo) e movimentar o corpo pode ser muito produtivo. Às vezes, nossos corpos precisam fazer o check-in com mais frequência e tudo bem. Convide as crianças a fazerem algumas posturas de yoga como a do cachorro olhando para baixo / para cima e a da cabeça abaixo do joelho (eles se curvam e apertam cada junta do corpo, começando pelos tornozelos e subindo até os ombros).

Outro movimento indicado é abraçar os joelhos: peça aos alunos que se sentem no chão, joelhos para cima e pés firmemente plantados no chão. Faça-os colocar os joelhos sob o queixo, abraçando-os com força. Eles podem descansar o queixo brevemente sobre os joelhos, como se os estivessem usando como uma mesa. Essa estratégia integra inputs proprioceptivos (a capacidade de perceber a posição e o movimento do corpo) por meio da compressão articular (aplicação de pressão profunda).

Proporcionar alguns momentos de pausas para conectarmos com o nosso corpo é de grande ajuda: seja fazendo algumas posturas de yoga simples (como o gato-vaca ou a postura da árvore), seja por meio de alongamentos, seja por meio de algumas brincadeiras corporais, enfim, tudo isso ajuda a trazer mais integração entre corpo e mente. Ao notarmos um grupo de alunos apáticos, por exemplo, podemos propor algo que os faça movimentar o corpo com energia e rapidez, como a brincadeira de chacoalhar e congelar o corpo proposta por Susan K. Greenland chamada "tap, breathe, shake, freeze". Certamente, o mood da sala vai dar uma guinada!

Mas se um grupo encontra-se no outro extremo - muito agitado, irrequieto - podemos propor algo como movimentos lentos, sincronizados para ajudar a trazer um ritmo mais harmônico para a sala. No site da Mindful Schools há um vídeo no qual a instrutora ensina cinco movimentos simples e agradáveis para fazermos com os alunos em sala a fim de trazermos maior equilíbrio entre corpo e mente.

Fidgets toys: são ferramentas sensoriais divertidas que ajudam no foco e concentração, pois permitem que o cérebro processe informações extras. Ao manusear essas ferramentas/brinquedos de forma repetitiva e funcional, as crianças podem livrar-se do excesso de energia. Eles também ajudam a aliviar a ansiedade e o estresse, além de contribuir para o desenvolvimento da coordenação motora fina.

No meu post de 03/11/21 escrevi sobre a função das caixas sensoriais na auto-regulação das crianças. Vale a pena dar uma conferida lá já que ela também é outra ferramenta com foco na aprendizagem.